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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Reajuste salarial dos professores paulistas na ponta do lápis.

(do Transparência SP)
Outra ofensiva midiática do governo estadual merece reparos.
Na última semana, Alckmin anunciou que dará reajuste salarial aos professores da rede estadual, visando acabar com as perdas inflacionárias.
Na verdade, o reajuste anunciado será em quatro anos, não eliminando as perdas inflacionárias que virão pela frente.
Mais ainda, nas reportagens da "grande imprensa", Alckmin inclui a incorporação de gratificação (já paga aos professores da ativa) como reajuste salarial. O "lobo perde o pêlo mas não perde o vício".
Matéria e tabela abaixo esclarecem esta questão.

 
Reajuste dos professores vai recuperar apenas parte das perdas salariais.


(do blog Se a rádio não toca)

Apenas um terço das perdas salariais dos professores no Estado de São Paulo, entre 1998 e 2010, serão recuperadas com o reajuste anunciado pelo governo Alckmin, sem contar que o percentual divulgado de 42,2% não corresponde a realidade. Isto porque, nele está inclusa a incorporação de gratificações que somam R$ 92.
Com estes ajustes, o percentual do reajuste, de fato, é de 36,67%, divididos em quatro parcelas anuais que se estendem até 2014: 8,5% em 2011 (já descontado o valor da gratificação); 10,2% em 2012; 6% em 2013; e 7% em 2014.
Fazendo as contas, a inflação até 2014, projetada na Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado (6,5% em 2011; 5% em 2012; 4,5% em 2013 e 4,5% em 2014) chegará a 22,2%. Subtraindo-se este percentual do reajuste concedido pelo governo (36,67% – 22,2%), chega-se ao valor de aumento real em quatro anos: 13%, ou seja, praticamente um terço das perdas.
Como foi mencionado na matéria do jornal Valor Econômico, o fim do bônus, agora negado por Alckmin, que contou em 2009 com recursos de R$ 655 milhões levaria a um aumento médio mensal de R$ 145 no salário recebido pelo professor, funcionários, coordenador pedagógico, supervisor e aposentados.
Este valor representaria um reajuste anual de 13,2% para o professor com jornada de 24 horas e 7,25% para o professor com jornada integral.
Deste modo, fica demonstrado que o que se pretende, de fato, é trocar valores gastos com o bônus por valores gastos com aumento no salário.
Isto ocorre por conta das várias decisões judiciais que já estão concedendo o valor do bônus para os aposentados da educação.
Além disto, também há decisões judiciais que obrigam o governo a conceder gratificações aos aposentados, obrigando também o governo paulista a acabar com a política de gratificações que não são incorporadas à aposentadoria.
O governo paulista bem que poderia usar o excesso de arrecadação previsto para 2011 em R$ 5 bilhões para, de fato, ressarcir as perdas dos servidores da educação, uma vez que um reajuste de 12% por ano cobriria as perdas acumuladas e o efeito da inflação projetada até 2014.
De qualquer modo, a substituição do bônus pelo aumento salarial é benéfica ao professor da ativa, pois aumenta os ganhos com vantagens adquiridas ao longo do tempo com qüinqüênio, sexta-parte e outras promoções ao longo da carreira.
Além disso, ao incidir sobre o salário base, passa a ser incorporado à aposentadoria, beneficiando os inativos.
A imprensa paulista pouco falou que a Justiça Federal manteve a lei federal (aprovada no governo Lula) que obriga o Estado a estabelecer que um terço da jornada de trabalho dos professores seja cumprida fora da sala de aula. Esta mesma lei define que o piso nacional do professor tem que ser calculado pelo salário base.
Estes dois pontos da lei federal não são cumpridos pelo governo paulista.
Com o seu cumprimento, o governo estadual terá que criar 55 mil novos cargos para professor, segundo avaliação da APEOESP, visto que um professor com carga máxima teria que dar 26 horas/aulas (com aluno), ante as 32 horas/aula (com aluno) que são dadas anualmente.
O cumprimento desta lei federal representa um verdadeiro benefício à qualidade da educação, aumentando o tempo para preparar as aulas e corrigir provas.
Diante deste quadro, esperasse que o governador Alckmin cumpra a lei federal e envie à Assembléia Legislativa projeto reestruturando a jornada do professor, abrindo brevemente concurso público para o magistério.

O anúncio de Alckmin é a confissão pública do sucateamento da educação pública durante os governos Covas, Alckmin e José Serra e do arrocho imposto à categoria dos professores. 
Também revela uma estratégia para estancar a crescente falta de professores dispostos a receber um salário ínfimo pago pelo governo do Estado, especialmente em uma época de crescimento da economia, do emprego e da falta mão de obra especializada em diversas outras áreas.






Los Angeles, Higienópolis e a civilização imperfeita!

(do Transparência SP)
As políticas públicas elitistas de São Paulo e a reação de parte da sociedade "deram motivos" para a elaboração de um dos melhores textos da crônica política do ano.
Viva a "gente diferenciada". Viva Rodrigo Vianna. 

Los Angeles, Higienópolis e a civilização imperfeita!

(por Rodrigo Vianna, do Escrevinhador)

Enquanto transitava feito alma penada pelas “freeways” de Los Angeles – essas avenidas assépticas, artérias de uma cidade estranha e dominada pelo automóvel -, recebi com alegria a notícia de que em São Paulo prepara-se um histórico churrasquinho em frente ao shopping Higienópolis.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Vou tentar explicar…
A gente tem mania de dizer que o brasileiro, e o paulistano em particular, é elitista, preconceituoso, excludente. Tudo isso tem uma ponta de verdade. Tudo isso encontra amparo na nossa história secular de desigualdade. Mas ao olhar para Los Angeles – para a tristeza e a pasmaceira dessa gente nas ruas limpas e vazias – senti uma ponta de orgulho de ser brasileiro.
Sim. Vamos lembrar…
Em Nova York e Washington, jovens foram às ruas duas semanas atrás para “comemorar” o assassinato de Bin Laden. Foi um espetáculo triste. E não vi outros jovens – nas universidades, nas escolas, nas associações ou Igrejas desse imenso país da América do Norte – terem a coragem de ir pra rua e dizer: “alto lá; Bin Laden é (ou era) um assassino; mas até os criminosos têm direito a um processo legal, essa é a base da democracia”.
Não. Os Estados Unidos abriram mão disso. Trocaram Justiça por Vingança. E quem ousou protestar ficou isolado. Os Estados Unidos são um gigante combalido. E um gigante combalido é perigoso.
O Império do Norte foi duramente golpeado em 2001, pelo ataque covarde às torres gêmeas. Depois, teve sua economia golpeada com a crise de 2008 (fruto de desregulação alucinada dos “mercados”, que tomaram de assalto o Estado fundado por George Washington). A eleição de Obama parecia redenção, enganou muita gente. Mas Obama já jogou no lixo o discurso (e a pose de) modernizador, e contentou-se com o papel de cowboy.
Vocês viram a cena insólita de Obama caminhando pela Casa Branca depois de anunciar que a “justiça foi feita”, logo após o ataque no Paquistão? Patético. Obama virou Bush. Um simulacro de Bush.
Comparemos com o Brasil. Nesse mesmo período, de 2002 pra cá, nosso país elegeu um operário. Depois, reelegeu o operário. Enterrou assim o complexo de vira-lata. Muita gente temia (e havia os que torciam descaradamente para que isso acontecesse) que um homem do povo não desse conta do recado. Lula deu conta. Mais que isso: tirou 20 milhões de brasileiros da miséria, fortaleceu o mercado interno, freou o processo de desmonte do Estado, pôs o Brasil no centro das decisões internacionais, devolveu auto-estima ao povo brasileiro.
Lula cometeu muitos erros. Sem dúvida. Mas ajudou a fundar um novo Brasil. E nosso ex-presidente é um líder conhecido e admirado no mundo inteiro. Ando por Los Angeles, e quando digo que sou do Brasil costumo ouvir: “Uau, it´s cool”. Algo como: “Uau, que bacana”.
Os Estados Unidos são uma potência. Ninguém duvida. Mas são uma potência triste.
O atual presidente deles é um negro que chegou ao poder carregando esperança de renovação. Afundou-se no conservadorismo dos cowboys. A nossa atual presidente é uma mulher, ex-guerrilheira – que segue os passos de Lula.
O último ex-presidente deles é Bush Jr. O nosso, é Lula.
E o churrasquinho? Ah, isso tem tudo a ver com Lula…
O churrasquinho, como se sabe, é a reação bem-humorada a esse bando de infelizes que fez lobby para não ter Metrô perto de casa, em São Paulo. Tudo aconteceu em Higienópolis, condado habitado (santa coincidência) por FHC. Uma senhora, moradora do condado de Higienópolis, chegou a explicar porque não queria o Metrô: é que isso traz gente “diferenciada” pro bairro.
Seguiram-se reações indignadas. Ótimo! O brasileiro indigna-se. Não aceitamos mais a boçalidade elitista. Vejam que o Prates (aquele comentarista tosco da RBS) perdeu o emprego ao dizer que qualquer “analfabeto” podia ter carro. Agora, a turma de Higienópolis apanha por ter feito a opção demofóbica. Isso é muito bom.
E digo mais. Ótimo que – em vez de agressões, pancadas ou cascudos – a turma elitista receba como contragolpe um churasquinho! Essa é uma lição para o mundo. É uma saída genial. Diante do preconceito, reagimos com escárnio, não com violência.
Nos Estados Unidos, isso seria impensável. Olho pras ruas tristes de Los Angeles, para os condomínios sem alma da cidade, para as calçadas limpíssimas de Santa Mônica (o balneário aqui bem próximo da capital do Cinema), e me orgulho do Brasil.
Podemos dar ao mundo o exemplo de uma civilização imperfeita, que não pretende (e nem consegue) ser limpa, higiênica, asséptica. Somos um país forte, que pode ser rico, mas seguirá cheio de defeitos.
Aceitá-los, como se aceita camelôs e gente “diferenciada” na porta de casa, é um exercício saudável para evitar nazismos, fascismos e bushismos.
Tantaz vezes confrontado pela elite brasileira que não aceitava ser governada por um “diferenciado”, Lula não partiu pro confronto, nem tentou derrubar a bastilha. Lula reagia sempre com o churrasquinho.
O churrasquinho é como se o povo, como fez Lula durante 8 anos, dissesse pra essa elite tosca: “não queremos ser iguais a vocês… Vocês é que deviam ser iguais a nós. Venham, sejam brasileiros! Venham pro nosso churrasquinho, aproximem-se! No Brasil, há espaço até para elitistas boçais.”
Somos uma civilização imperfeita. É o melhor que podemos oferecer ao mundo.
Somos um país que responde ao preconceito com churrasquinho! Viva o Brasil.

P.S. – Um comentarista abaixo estranha o fato desse escrevinhador falar em “elitismo”, escrevendo de Los Angeles. Esclareço duas coisas: estou em Los Angeles a trabalho, não escolhi (e nem escolheria) passar férias aqui. Mas não tenho problema em dizer que ganho bem como jornalista, e até posso vez ou outra viajar para o exterior. Mas gosto de churrasquinho e não tenho medo de gente “diferenciada”. Há elites e elites. Abraços.

Era Lula versus era FHC em resumo.



(do Transparência SP)

Reportagem perfeita.

"Deu churrasco" neste último final de semana no Higienópolis, em Sampa: tudo pelo metrô em área nobre.

Manifestantes fecham rua em Higienópolis (SP) e realizam "Churrascão da Gente Diferenciada"

(do UOL Notícias, por Rodrigo Bertolotto)

Travessas de farofa, cervejas no isopor, espetinhos de frango, pagode e palavras de ordem como "Vem para rua comer churrasco". Nesse clima, cerca de 300 pessoas fecharam a avenida Higienópolis nesta tarde de sábado (14), em frente ao shopping local, zona central da capital paulista, em protesto contra a desistência do governo de São Paulo de construir uma estação de metrô na avenida Angélica, a principal do bairro.
Depois a manifestação se deslocou pelas ruas do bairro até a esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, local onde inicialmente estava projetada a estação. Churrasqueiras portáteis foram instaladas no local e assaram chuchu, em referência ao apelido do governador paulista, Geraldo Alckmin. Não foram registrados atos de violência no ato que teve forte presença policial e da CET, a companhia de trânsito paulistana.
O "Churrascão da Gente Diferenciada", nome dado ao protesto por seus organizadores a partir de página na rede social Facebook, mobilizou estudantes, moradores e integrantes de movimentos sociais, que levaram um ambiente popular pelas ruas do sofisticado bairro.
O nome da manifestação surgiu após uma declaração de uma moradora de Higienópolis em entrevista à Folha de S.Paulo. “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada…”
A concentração começou na praça Villaboim às 13h, com batucada e cerveja. Boa parte dos manifestantes, porém, foi diretamente para a frente do shooping Páteo Higienópolis. Várias faixas brincavam com a recusa da estação e classificação que o metrô traria o "povão" para a área requintada. "Metrô em Higienópolis vai ter entrada social e de serviço", "Só pego metrô em Londres e Paris" e "Churrascão da Gente Diferenciada. É nóis na fita".
Um rapaz imitando o governador Alckmin (com direito a capacete de plástico e camisa azul arremangada) brincava com a situação: "A estação não vai mais chamar Angélica. Vai ser a estação Luciano Huck. Está mais no nível do bairro."
Cantando um pagode, o estudante Jorge de Oliveira explicou a razão do protesto: "Viemos trazer um pouco da cultura diferenciada para eles apreciarem".
Participaram também do protesto cicloativistas e integrantes do movimento "Passe Livre", que luta contra o valor das tarifas de ônibus em São Paulo. Eles chegaram a incendiar uma catraca coberta de papel e tecidos e atearam fogo nela na frente do shopping. O curioso é que teve gente que usou a brasa para assar espeto de queijo.
O promotor Maurício Ribeiro Lopes, que pediu investigação para saber qual o real motivo da desistência de se construir a estação no local, também estava presente no ato. Segundo ele, é preciso saber se houve pressão de moradores ou se há uma razão técnica para a atitude. "Há indícios que o governo cedeu à vontade de parte dos moradores", disse o promotor.



Ministério Público vai investigar o fim do metrô no Higienópolis.

(do Transparência SP)

O ativismo do MP e de outras instituições paulistas recentemente refletem, na verdade, um quadro político mais intrincado, com grandes disputas no horizonte.
PSD/Kassab/Serra, PMDB/Temer/Skaf/Chalita, PT/Lula/Marta/Mercadante e PSDB/Alckmin/Bruno Covas devem protagonizar intensas disputas até 2014. O primeiro round será nas eleições municipais em 2012, sobretudo na capital.
De qualquer modo, a "blindagem" do governo paulista, que tão caro custou para o cidadão, está sendo reduzida de forma significativa.
O episódio da estação do metrô no Higienópolis, mesmo com os possíveis excessos produzidos pela imprensa, refletem este novo momento.
Alguns anos atrás, não ficaríamos nem sabendo que teriam ocorrido pressões dos moradores do Higienópolis para que a estação do metrô não fosse colocada no seu bairro. Teríamos apenas as "razões técnicas do Metrô". 


Promotoria vai investigar o fim da estação Angélica do metrô

(da Folha de SP)

O Ministério Público de São Paulo vai apurar se a desistência do Metrô de construir uma estação na avenida Angélica, em Higienópolis, bairro da elite paulistana na região central, foi motivada por questões técnicas ou por pressão de moradores e comerciantes.
O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes pediu ontem esclarecimentos ao secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. "Quero saber se ele cedeu a uma pressão da elite ou se a questão foi técnica. Se a questão foi de quem pode mais chora menos, é um absurdo para a cidade."
A Folha revelou ontem (11) que o Metrô retirou a estação Angélica do projeto da linha 6-laranja (Brasilândia-Liberdade), que será substituída por outro terminal na região do estádio do Pacaembu.
A decisão veio após protestos liderados pela Associação Defenda Higienópolis, que temia o aumento do fluxo de pessoas na região e a instalação de camelôs, além de questionar a escolha do local para a estação --na esquina da Angélica com a rua Sergipe, onde hoje há um supermercado Pão de Açúcar.
Segundo o promotor, o governo pode ser denunciado por desrespeito à Constituição, que garante tratamento igual a todos os cidadãos.
A investigação também focará a conveniência da estação no Pacaembu. Um problema seria o fluxo em dias de shows e jogos. Para o coronel Carlos Savioli, comandante do batalhão especializado em policiamento de estádios, a estação não será problema. "A PM tem condições de garantir a segurança."
Anna Claudia de Salles, presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Perdizes/Pacaembu, prevê mais furtos e roubos no entorno. "Infelizmente, seremos mais abordados por pessoas flutuantes."
Em nota oficial, o Metrô reafirmou ontem que a decisão de reavaliar o local onde ficará a estação na região foi técnica e que vai colaborar com o Ministério Público.
A companhia diz que a estação Angélica ficaria a apenas 610 m da futura estação Higienópolis/Mackenzie e a 1.500 m da PUC-Cardoso de Almeida. "Essa reavaliação tem caráter exclusivamente técnico, em nada motivada por pressão dos moradores da região de Higienópolis."
A companhia voltou a dizer que a localização exata da nova estação ainda depende da conclusão de estudos técnicos de solo, mas ela deve ficar situada no entorno do Pacaembu.


Esquina da avenida Angélica com rua Sergipe, na região de Higienópolis; local iria receber estação do metrô


http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/914685-promotoria-vai-investigar-o-fim-da-estacao-angelica-do-metro.shtml


Ser rico não é pecado

(por Sérgio Malbergier, no UOL)

O Brasil ama odiar as tais "elites". Elas são, a priori, culpadas por todas as mazelas do país. Um populismo ingênuo que precisa ser superado.
Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.
Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.
A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.
Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.
Morei muito perto dessa esquina por muitos e muitos anos. Meus pais ainda moram lá. Posso falar com propriedade que a mudança de local da estação faz bastante sentido. Já está sendo construída uma estação ali perto, no colégio e universidade Mackenzie, a poucas quadras.
Faz mais sentido a nova estação atender à região do Pacaembu (com os enormes fluxos ao estádio, à universidade Faap, aos bairros do Pacaembu e das Perdizes) do que replicar uma estação a poucas quadras em Higienópolis.
E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.
A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.
A pegada histórica de nossas elites tem episódios arrepiantes. Colonialismo, escravismo, autoritarismo, extrativismo humano, desigualdade extrema. Os pobres de fato sempre foram oprimidos, reprimidos, explorados, forçados à ignorância, ao silêncio, à miséria.
Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.
Nascem uma nova elite e novos ricos. Balzac dizia que atrás de toda fortuna havia um crime. Mas isso foi no século 19. Estamos no século 21, pós Lula e FHC, pós-consenso capitalista.
Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.

PCC comanda execuções de desafetos por meio de Justiça paralela: blindagem demotucana na imprensa paulista está abalada

(do Transparência SP)

Estatísticas maquiadas apresentaram uma situação sob controle, transformando SP em uma Suíça. A realidade é bem diferente: policiais mal pagos - obrigados a viver dos "bicos" que não raramente pagam mais do que o holerite do Estado -, utilizando-se de viaturas e equipamentos públicos para 'mendigar' até por comida em restaurantes e padarias dominam a cena paulista.

Como resultado, a corrupção policial se aprofunda permitindo que a Cracolândia e a Galeria Pagé continuem existindo na maior metrópole brasileira.
Todos estes temas foram "descobertos" recentemente pelas reportagens do PIG.
Agora é a vez dos "Tribunais do Crime", que executam desafetos e compõem um sistema de "Estado paralelo" cada vez mais poderoso e influente.

Embora as informações já sejam conhecidas por grande parte da sociedade paulista desde os ataques do PCC em 2006, somente agora a imprensa "descobriu" e "encontrou relevância" neste tema.







Cinco anos após ataques, PCC comanda execuções de desafetos por meio de Justiça paralela.

(do UOL, por Arthur Guimarães)
Nesta quinta-feira (12), exatos cinco anos após os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), São Paulo ainda convive com os desmandos da principal organização criminosa paulista, espécie de cooperativa de bandidos oriunda dos presídios que, hoje, tem no tráfico de drogas sua principal fonte de renda.
Não satisfeitos em controlar pontos de vendas de entorpecentes e em financiar e organizar grandes roubos, no entanto, os “irmãos” do PCC ampliaram sua força e desenvolveram, de lá para cá, um sistema primitivo – porém eficiente – de execução de desafetos.
Entre os alvos dos membros do chamado Partido do Crime, estão pessoas que desviam ou furtam dinheiro do grupo, ameaçam as lideranças ou que praticam atos não aceitos pelas regras internas do PCC, como o estupro e a pedofilia. Os denunciantes, normalmente, são parentes de presos ou gente ligada ao comando.
As ordens para eliminar ou perdoar um cidadão partem das cadeias. Em ligações coletivas via celular, muitas vezes unindo lideranças de presídios distintos, os integrantes da organização criminosa organizam os chamados “debates”, tribunais ilegais em que a pena de morte é uma sentença corriqueira.
Como explica Carlos Battista, delegado que acompanhou diversas escutas telefônicas quando monitorava o tráfico pelo Departamento de Narcóticos (Denarc), lideranças fazem o papel do juiz. “Quando há uma desavença, eles fazem o debate para cada um dar o seu ‘parecer’. São várias pessoas na linha, cada um resumindo sua opinião sobre o ato praticado. Já vi alguns perdões. Mas, normalmente, mandam matar ou torturar”, afirma ele, que hoje atua como delegado assistente no 20º Distrito Policial (Água Fria) da capital.

Em código, ordem para matar desafeto

De tão comuns, as escutas telefônicas que flagram as encomendas de assassinatos foram parar até em rádios de São Paulo. Um dos programas que mais as divulga é o chamado Ronda da Cidade, transmitido pela Rádio Terra 1330 AM e comandado pelo capitão da reserva da PM e ex-deputado estadual Conte Lopes (PTB), que forneceu alguns arquivos de áudio para o UOL Notícias.
Em um dos grampos, está um suposto flagrante da ligação feita por Rodrigo Olivatto de Morais em 2005 para seu padrasto Marcos William Camacho, o Marcola, líder do PCC. Na ocasião, Marcola teria ficado indignado com um achaque da polícia, que pediu R$ 300 mil para liberar o rapaz.
O caso de corrupção teria sido fundamental para o início dos ataques de maio de 2006. A conclusão é apontada em relatório intitulado 'São Paulo sob Achaque: Corrupção, Crime Organizado e Violência Institucional em Maio de 2006', desenvolvida pela organização não governamental (ONG) Justiça Global e pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, com apoio de outras entidades.

“Todas as vozes são do PCC”

"Todas as vozes ali são de membros do PCC. Os criminosos planejam os crimes pelo celular. Todo policial sabe que a coisa (repressão) está meio frouxa, meio devagar”, afirmou Lopes. Apesar de atestar a veracidade das conversas, Lopes diz não conseguir identificar os participantes dos debates. “Só sei que foram escutas de 2008 e 2009.”
Comandante-geral da Polícia Militar (PM) de 1999 a 2002, o policial reformado Rui César Mello ouviu as gravações e, para ele, as vozes e o perfil dos diálogos parecem reais – e são reveladores de “falhas” no sistema prisional. “Há muitos celulares nas cadeias, o que deveria ser reprimido. Mas com certeza as autoridades estão mapeando as quadrilhas. E deve haver trabalho preventivo: ao escutar determinado anúncio de crime, a polícia precisa agir antes”, afirma.

Escuta: enteado pede ajuda de Marcola

Especializado no tema, o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino também critica a forma como os celulares continuam a ser usados no sistema penitenciário paulista. Ex-promotor do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o membro do Ministério Público não aprova estratégias que permitam o uso de telefones como forma de monitoramento dos presos. “Não que ela esteja em uso, mas é uma péssima ideia. Se você grampeia 60 aparelhos de mil, o número de crimes planejados continua grande e, por isso, a tática não vale a pena.”

Cultura da vingança sangrenta

Na visão de Denis Mizne, diretor do Instituto Sou da Paz, outra chaga evidenciada pelos tribunais do PCC é a fraca presença do Estado na periferia. “A Justiça tradicional é muito lenta. A pessoa vai na delegacia e demora horas para fazer um Boletim de Ocorrência, além de ser mal tratada. Depois, o processo some e ela nunca mais vê o resultado. Tem gente que acaba apelando para a Justiça dos criminosos.”
Segundo ele, no entanto, o PCC não está fazendo nenhuma inovação, apenas chamando para si a responsabilidade por coibir ações sempre tidas como inaceitáveis nas comunidades carentes. “Os praticantes de crimes que mexem com a moral, como estupradores e pedófilos, sempre foram vítimas de vinganças sangrentas na periferia, assim como os crimes contra o patrimônio em áreas de tráfico. É cultural. O PCC apenas organizou essa prática”, afirma.

PCC organiza vingança por roubo

De toda forma, há especialistas que enxergam um enfraquecimento do Primeiro Comando da Capital no Estado. “O PCC tem várias faces. Muitas das lideranças que incentivaram os ataques em 2006, após a morte de tantos parceiros, acabaram perdendo força internamente. Além disso, a polícia passou a investigar as lideranças mais de perto, e prendeu muita gente. A conta ficou cara”, afirma José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
Segundo ele, a criação de facções dentro de presídios é um fenômeno mundial - e não há uma fórmula comprovadamente eficiente para inibir a formação dos grupos. "A situação precária dos presídios no país propicia uma venda interna de segurança e conveniência. E o bandido que está na rua sabe que corre o risco de ir preso. Por isso, mesmo os membros do PCC que estão soltos, são fiéis aos detentos, pois sabem que podem voltar para trás das grades", diz Vicente.
Para o coronel, uma das formas práticas de reduzir o poder dos criminosos seria investir de forma robusta no combate à corrupção policial e dos agentes penitenciários. "Sem o apoio do Estado, o crime organizado não tem poder nenhum."
A Secretaria de Segurança Pública optou por não comentar as informações e os áudios publicados pelo UOL Notícias. A reportagem também tentou contato com advogados que já defenderam supostos líderes do PCC, mas não obteve sucesso em encontrá-los.


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Memórias do Saqueio: como o patrimônio construído com o trabalho e os impostos do povo paulista foi vendido
 
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